sábado, 6 de agosto de 2011

"(...)
Com os braços e pernas atrofiados, a expressão atormentada, o filho de Geni Pena, Emmanuel Luiz, era o retrato do sofrimento. Revirava-se na cama, contorcia-se em convulsões, sacudia-se em crises de choro. Um amigo de Chico ficou impressionado com o estado da criança. Como Deus, tão onipotente, admitia tanta dor ?
A resposta veio de acordo com a lógica espírita: você colhe o que planta. Cada um volta à Terra com as sequelas provocadas por si mesmo em vidas anteriores. Deus não tinha nada a ver com as tragédias alheias. Cada um é responsável pelo próprio céu ou inferno. Emmanuel repetiria a Chico várias vezes:
- O ontem fala mais alto do que podemos admitir no tempo que chamamos hoje.
Na roda-viva das reencarnações, tragédias se sucediam. Chico fazia incursões pelo mundo-cão. De vez em quando, visitava um jovem deformado num barraco à beira de um matagal. Paralítico, ausente, ele vegetava sobre a cama. Sua mãe, doente, já  não tinha forças para cuidar dele. O protegido de Emmanuel arregaça as mangas, ajudava a dar banho no rapaz e a alimentá-lo. Um médico, diante de quadro tão desolador, chegou a sugerir a eutanásia.
Chico mudou de assunto e deu uma explicação estranha para tanto sofrimento. Em sua última temporada no planeta, o infeliz tinha sido responsável pela tortura e morte de uma multidão de inocentes. Sua herança: uma legião de inimigos raivosos, loucos por vingança. Quando ele morreu, suas vítimas o agarraram e o torturaram de todas as maneiras durante vários anos. O corpo disforme e mutilado representava um abrigo contra os inimigos do outro mundo.
Enquanto ele dormia, seu espírito se desprendia do corpo, saía mundo afora e era atacado pelos adversários. Aterrorizado, em pânico, ele voltava para a tranquilidade de seu organismo destroçado e se refugiava ali, entre os próprios escombros. A deformidade funcionava como esconderijo. A debilidade servia como fortaleza.
Chico deixava os amigos boquiabertos com histórias como esta. Para muitos, o autor do Parnaso de Além-Túmulo tinha acesso a dados privilegiados sobre as vidas passadas de cada um. Mas o vidente evitava desperdiçar revelações. Só abria exceções em casos críticos. Como o da mãe desesperada no Centro Luiz Gonzaga, com restos do filho no colo:
- Meu filho nasceu surdo, mudo, cego e sem os dois braços. Agora está com uma doença nas pernas e os médicos querem amputar as duas para salvar a vida dele.
Chico pensava numa resposta, quando ouviu o vozeirão de Emmanuel:
- Explique à nossa irmã que este nosso irmão em seus braços suicidou-se nas dez últimas encarnações e pediu, antes de nascer, que lhe fossem retiradas todas as possibilidades de se matar novamente. Agora que está aproximadamente com cinco anos, procura um rio, um precipício para se atirar. Avise que os médicos estão com a razão. As duas pernas dele serão amputadas, em seu próprio benefício.
A lei de causa e efeito é implacável no espiritismo."

Trecho do livro "As vidas de Chico Xavier" de Marcel Souto Maior, página 78 e 79.

Nenhum comentário:

Postar um comentário